quarta-feira, dezembro 13, 2006

A pracinha cinza

Sentado
Ali em baixo
Naquela pracinha cinza
Pertinho de uma banquinha
À esquerda de uma arvore muito antiga
Entre duas pedras pontudas
À sombra de uma grande nuvem
Olhando a rua vazia
À tarde tomando conta da vida
As cores mudando no fim do dia
O vento rumando sem destino
Atingindo rostos nas esquinas
Levando folhas caídas
A poeira cobre toda a calçada
Movem-se em silêncio no quarteirão
Fazendo desenhos estranhos
Apagados por sapatos
Todo um esforço natural em vão
Têm copos vazios pelo chão
Lagrimas secando no banquinho
Fazendo companhia para a solidão
Dizendo sem palavras na pracinha
Que foi criada pela dor do amor
Vai sumindo sem despedidas
Como muitas outras fizeram um dia
Pensei que o tempo não passasse aqui
Não sei bem o porque
Mas tenho que ir
Ver o mundo mudar
Já no próximo quarteirão
Deixo mais uma lágrima aqui
Para que também conte uma história
De mais uma vida triste
Esquecida por todos
Que viu as cores mudarem sozinhas
Ali sentado
Na pracinha cinza

quarta-feira, novembro 08, 2006

Transeuntes

Parados cercando uns aos outros
Procurando no dia-a-dia algo novo
Para os manter vivos
Aglomerando-se nas esquinas e avenidas
A maioria não espera o semáforo fechar para atravessar

E pra que viver aqui?
Posso simplesmente esperar tudo acabar
Sem precisar ver o sol
Sem precisar acender a luz
As pessoas vão continuar por aí
A procurar umas as outras
Sem precisar pensar no que vêm depois

Você que decide o que acontece
Ainda está aí?
Olhando os moribundos em fila
Rumar do carnaval ao natal
Na esperança de um lugar na janela
Alegria fria de mais um final de tarde
Só mais 2 horas e tudo acaba
Por hoje

Sim
Algo transcorre nas entrelinhas
Esvaem-se em dissonantes os sorrisos
Onde um fim é a glória dos objetivos não alcançados
Não faltam lágrimas para cada dia de vida
Completam-se ciclos e rotinas

E assim
Assistem o começo de mais uma vida
Ela insiste em sair e se aglomerar também
Vai se privar de sonhos
Para cumprir horário
Até desaparecer em meio à atração principal
Onde todos se encontram para ver a mágica acontecer
O fracasso
O cansaço
O medo
A solidão

domingo, setembro 17, 2006

Fluxus

quinta-feira, setembro 14, 2006

É

É
O mundo não acabou
Os outros continuam sendo distantes
Enquanto os lados continuam vazios
Porque procurar?
Vamos todos para o mesmo lugar
É
Como é triste desejar
Saber que de nada vai adiantar
Os livros serão presentes para as traças
A poeira encobrirá todas as lembranças
Panos brancos em cima dos bancos
É
Não adianta tentar remediar
Sorrir para o tempo passar
Criar para o nada destruir
Amar para poder se machucar
Ou se purificar
É
Vou acabar não conhecendo
A forma de ser um igual
Olhar para frente e sentir paz
Apagará o medo da solidão
Já que vamos ficar sós
É
Espero pelo que me salvará
Onde está?
Não consigo mais olhar dentro de mim
Auras pararam de brilhar
O que era puro não esta mais aqui
É...

quinta-feira, agosto 31, 2006

O dono da solidão

Vem chegando sem graça
Com a roupa desarrumada
No rosto abre um sorriso
Que o coração não aprovou
Como o tempo ele passa
Sem ver caminhos
Sem saber onde está indo
A solidão chegou
Tem brilho nos olhos
Não nega carinhos
Tem até vizinhos
(Eles não sabem que ele está lá)
Gosta de comer doces
De ver os passarinhos
Mas não sabe onde está indo
A solidão chegou
Sente a corrente de ar
Levantar os seus cabelos
Sem tirar a mão do bolso
Continua sem saber aonde vai
Olhando vitrines
Sendo o mundo e humano
A solidão agora tem dono
E não precisa ter um porque
Há uma luzinha em seu coração
Não ilumina calçadas
Não mostra degraus de escadas
É a única graça de seu coração
Já que agora ele está partindo
Ao encontro da solidão
Será que ele sabe onde está indo?
Não existe um caminho
As ruas não têm sentido
Só espera quem está desiludido
A solidão chegou

segunda-feira, abril 17, 2006

solitude

terça-feira, março 21, 2006

Esquadros

eu ando pelo mundo prestando atenção
em cores que eu não sei o nome
cores de almodóvar
cores de frida kahlo, cores
passeio pelo escuro
eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora
eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho o meu modo, me mostro
eu canto pra quem?

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
minha alegria, meu cansaço?
meu amor cadê você?
eu acordei
não tem ninguém ao lado

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

(Adriana Calcanhotto)

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

No fim do corredor à direita

São nesses casos que fico atordoado, quando tudo está para acontecer e não consigo sair do lugar, insisto em ver o dia passar, calado. Com as mãos no rosto, olho para onde o sol se esconde, tudo é tão cinza aqui, nenhum anjo vem soprar novidades, apenas apontam no horizonte o lugar aonde o sol se esconde, não posso seguir até lá, a luz ofusca minha visão. Esse não é um motivo real para desviar minha visão para o chão, também não me escondo do que acontece, imperceptível, todo o lugar busca a minha ausência!
Decorando festas alheias com a minha partida, sigo listras espalhadas no caminho, distraído com o vento que refresca esse calor insuportável que é estar preso dentro desse corpo, não tenho para onde voltar. Vozes sussurram ao ouvido...Vamos lá...Vamos lá?
Duvidas? Elas aparecem e desaparecem e acabam por aparecer novamente, nunca somem de vista, estão sempre nas localizações, sempre por perto, dentro de você, onde você gosta de ir, onde você acha que conhece todos os detalhes, lá está ela, soberba! Onipresente destruindo vidas inteiras por ser tão bela, a minha também. Fico a margem de seu sorriso, não tenho coragem de me aproximar mais, quero falar com o seu coração sem rosto, prometo dizer a verdade, o que acho que é a verdade, não sei em que você acredita, na verdade não sei no que eu acredito. Perturbado! Ainda está para acontecer, o que? Eu não tenho a mínima idéia, gostaria que alguém me explicasse essa ansiedade, todas as ofensas ao nada, as brigas com a noite, os monólogos sobre ser bom e mau, ter milhares de rostos e apenas um nome. Busco apoio naquilo que não serve pra nada, torna-se entulho, lixo de luxo, não suprem a vontade ser, sim ser, todos são, eu também! Bem, não sei, estou aqui, acho que isso deve valer alguma coisa, o mínimo, o premio pela participação, aquele adesivo dizendo “eu participei” ou uma camiseta do tipo “eu estive lá” me sinto bem melhor com isso. Por favor, pode me dizer onde é que fica o banheiro? No fim do corredor à direita. Obrigado! Preciso vomitar minha vida na sua privada, deixar manchada a sua casa tão limpa com a bílis que sai de mim. Acumulando dor no travesseiro, o tempo me empurra pelos dias que nascem, são repetidos a exaustão, não vão ter fim, estarão lá mesmo quando a terra consumir todos os corpos, ainda estarão lá, fazendo o percurso ou cumprindo pena por não fazer nada, só a sua função.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Saudade passa?

Também sinto saudade
Sinto falta das coisas
Sinto falta das pessoas
Sinto falta do contato
Mesmo sem tocar
Mesmo sem ver
Não sei o que é sentir o bem
Sou o mau
O mau que afasta as pessoas
Que destrói as coisas
Que não quer ter contato
Não existo aqui
O plano em que estou?
Só atinge solas de sapatos
Habituado a não ser nada
Nem mau
Nem bom
Eu
Aqui ou ali
Ninguém vê
Sabem que estou aqui ou ali
Mas ninguém vê
Esperando o verão
Depois o inverno
Os anos
O tempo vem me roubando
Não tem um segredo a vida
Enquanto a morte estiver aqui
Rondando

(a saudade passa, a gente também).

Já não sei!

domingo, janeiro 08, 2006

Philosophers song




Immanual Kant was a real pissant
Who was very rarely stable

Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
Who could think you under the table

David Hume could out consume
Schopenhauer and Hegel

And Wittgenstein was a beery swine
Who was just as schloshed as Schlegel

There's nothing Nietzche couldn't teach ya
'Bout the raising of the wrist
Socrates, himself, was permanently pissed

John Stuart Mill, of his own free will
On half a pint of shandy was particularly ill

Plato they say, could stick it away
Half a crate of whiskey every day

Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle
Hobbes was fond of his dram

And Rene' Descartes was a drunken fart
"I drink, therefore I am"

Yes, Socrates, himself, is particularly missed
A lovely little thinker
But a bugger when he's pissed




(Monty Python)

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Coffee and cigarretes



Deixe o que sente sair, agarre e coloque no papel, mexa, misture, torture, acaricie, brigue, ame, até que esteja vivo e pulsando nas paginas daquele caderno velho e sujo, quando a satisfação alcançar seus olhos, pegue sua xícara preferida e beba à-vontade seu café!