sexta-feira, maio 25, 2007

Dos mares impuros ao esgoto da clareza

Sobre a mesa vazia
Fica perdido o que penso ou que quero pensar
Olho o movimento das mãos
Junto migalhas de pão criando pequenos morros
Evitando ou tentando ser a criação
Descobrindo que é inútil flertar com o que não sei
Misturo tudo com um suspiro cansado
Levanto levando o ar a novas atitudes
Morros de migalhas ficam para trás
Ando em círculos
Olho para os lados
Desfaço as horas em pequenos lapsos
Saio de cena tentando lembrar o que passou
Essa imensidão tão impura que vejo
Domina todos os lugares que pretendo ir
Enchendo o ar com seu odor
Não posso parar de respirar
Não agora
Não sou a exceção em meio a tudo isso
Contamina minha vida o que vejo e sinto
Sentado mexendo nas migalhas sobre a mesa
Ou mesmo andando em círculos
Tentando dar mais vida ao que me faz bem
Mais uma vez foge a sensação de exceção
Volto ao estado recluso
E tento ser
Afogo naquele mar o que gostaria de ser
Tão impuro fica ainda mais sujo com tanta confusão
De onde vem esse mar?
Que aos poucos vai subindo e dominando tudo ao redor
Estende-se até onde não posso ver
Crio minha ilha enquanto vejo o desespero dos afogados
Lembro que o que eu queria ser está lá também
Abandono à coragem de pular no infinito
Continuando aqui sentando
Existem muitas migalhas pra transformar em morros aqui

quarta-feira, maio 23, 2007

domingo, maio 20, 2007

Realidade fora de questão

De repente sinto-me a vontade fora do plano normal de vida das pessoas. Não tão de repente, mas coloco como repentino aqui para não entrar nos detalhes sórdidos de uma jornada sem novidades e acontecimentos calorosos. Descobri que as coisas que não acontecem aqui, elas acontecem, mas de uma forma abstrata e ilusória aos olhos sãos do cidadão comum. Refletem a miragem que é viver só em um mundo onde viver só é impossível! Aguardo em meu coma vendo a vida mover-se e mudar. Desenvolvo um senso de fora para dentro, absorvendo tudo sem sentir nada. Sinto, mas o que sinto está longe, bem longe daqui ou de qualquer um que esteja disposto a mergulhar no infinito de mesmice que é a vida de um ser humano. Circulo por quarteirões e penso nas coisas que todos consideram reais e aceitáveis, como o lixo nas calçadas, prestações de bens recém adquiridos, relacionamento e mais uma série de coisas que são usadas como válvula de escape para não enlouquecer. Elimine seus amores, seus vícios, seus medos, suas qualidades e seus defeitos, junte-se a rota mórbida das questões subliminares da sua vida, delicie-se com a experiência de viver única e exclusivamente para os pensamentos que perturbam suas noites. Ignorar os acontecimentos reais de uma vida só faz sentido para quem não tem uma vida. Andar entre pessoas e não ser parte da vida delas gera uma nova forma de sensação, daquelas que você sente depois de anos de terapia paga sem retorno nenhum para sua vida, mostrando a inutilidade dos exercícios mentais elaborados por quem não conhece sentimentos íntimos alheios, comparando um universo inteiro com a mesma estrela, sempre com a mesma estrela.Buscando o fundo dos sentimentos de uma só alma, ligada a uma só cabeça, embaralhada com interrupções de outros que não enxergam nada além dos seus salários e promoções, tento não me intrometer no que consideram ser vida. Vivo, não por opção ou objetivos, vivo por que fui gerado, só isso. Isso faz de mim um insensível? A realidade não está em questão aqui. Disfarço meu rancor com um sorriso prático, aceitável, inofensivo. Recluso no meu faz de contas, não me canso de interpretar o que eu não sou, assim, os anos passam e a sensação que fica é a de que está tudo bem. Meus sonhos estão fora do meu alcance, aquilo que amo é tão inútil quanto o futuro que nos aguarda, recluso, ainda sou o zumbi de walkman no ônibus, disfarçando em uma projeção bem definida o que não existe.

sexta-feira, maio 04, 2007

Nada de útil, nada de novo, vou voltar a escrever aqui...

Gosto de estar sozinho, mas não gosto de ser sozinho. Gosto quando tem alguém ali do lado, quietinho, mesmo que seja um espelho, então eu vejo e fico insatisfeito. Como se tudo que eu desejasse dependesse da opinião de quem está por perto. Não tem ninguém aqui agora. Deixo livre esse espaço para tentar pensar e isso só leva o que sei a preocupações maiores, coisas que na verdade não preocupam, só decepcionam, vão embora com as horas deixando o claro aviso de que estão por perto. É esse o tipo de Companhia que me cerca, não existem, não podem ser tocadas, mas todos conhecem e sabem, isso requer uma atenção cuidadosa. Os medos continuam sondando o que penso, impedem sorrisos quando bem entendem, limitam minha vida ao conformismo e a fácil aceitação do que eu não gosto, mas preciso... Preciso?
Eu não preciso de um carro, um emprego, dinheiro e essas coisas. Então todos dizem o quão aproveitador eu sou e que todos precisam sustentar-se! Não quero ser o dependente de todos, não quero depender. Quero que o mundo saia da minha cabeça deixando espaço suficiente para o simples. Ser sociável e amável sem ter de atuar. Devora o resto de mim viver em uma rotina cheia de pessoas e sem nenhuma companhia. Ser o resto de mim mesmo... Todos os lugares estão vazios, todos os rostos estão vazios, deixando cada vez mais longa a já interminável rotina do dia a dia. Vão se espalhando os pedaços das vidas em pontos e paradas, fragmentos que nunca se misturam, nunca deixarão de existir. Eu vou juntando os pedacinhos, recolhendo devagar o pouco que resta do que eu queria ser. Ainda estou sozinho aqui, olhando para tudo que não vai acontecer comigo.