domingo, maio 20, 2007

Realidade fora de questão

De repente sinto-me a vontade fora do plano normal de vida das pessoas. Não tão de repente, mas coloco como repentino aqui para não entrar nos detalhes sórdidos de uma jornada sem novidades e acontecimentos calorosos. Descobri que as coisas que não acontecem aqui, elas acontecem, mas de uma forma abstrata e ilusória aos olhos sãos do cidadão comum. Refletem a miragem que é viver só em um mundo onde viver só é impossível! Aguardo em meu coma vendo a vida mover-se e mudar. Desenvolvo um senso de fora para dentro, absorvendo tudo sem sentir nada. Sinto, mas o que sinto está longe, bem longe daqui ou de qualquer um que esteja disposto a mergulhar no infinito de mesmice que é a vida de um ser humano. Circulo por quarteirões e penso nas coisas que todos consideram reais e aceitáveis, como o lixo nas calçadas, prestações de bens recém adquiridos, relacionamento e mais uma série de coisas que são usadas como válvula de escape para não enlouquecer. Elimine seus amores, seus vícios, seus medos, suas qualidades e seus defeitos, junte-se a rota mórbida das questões subliminares da sua vida, delicie-se com a experiência de viver única e exclusivamente para os pensamentos que perturbam suas noites. Ignorar os acontecimentos reais de uma vida só faz sentido para quem não tem uma vida. Andar entre pessoas e não ser parte da vida delas gera uma nova forma de sensação, daquelas que você sente depois de anos de terapia paga sem retorno nenhum para sua vida, mostrando a inutilidade dos exercícios mentais elaborados por quem não conhece sentimentos íntimos alheios, comparando um universo inteiro com a mesma estrela, sempre com a mesma estrela.Buscando o fundo dos sentimentos de uma só alma, ligada a uma só cabeça, embaralhada com interrupções de outros que não enxergam nada além dos seus salários e promoções, tento não me intrometer no que consideram ser vida. Vivo, não por opção ou objetivos, vivo por que fui gerado, só isso. Isso faz de mim um insensível? A realidade não está em questão aqui. Disfarço meu rancor com um sorriso prático, aceitável, inofensivo. Recluso no meu faz de contas, não me canso de interpretar o que eu não sou, assim, os anos passam e a sensação que fica é a de que está tudo bem. Meus sonhos estão fora do meu alcance, aquilo que amo é tão inútil quanto o futuro que nos aguarda, recluso, ainda sou o zumbi de walkman no ônibus, disfarçando em uma projeção bem definida o que não existe.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os acontecimentos ñ passam de delírios coletivos!